A legalização da marijuana é um tema muito quente na sociedade de hoje. Um grande número de países está imerso neste debate e cada vez mais optam por regularizar e normalizar a situação da cannabis.
Mas entre todos eles há um caso que se destaca por estar realizando uma regularização pioneira em relação à legalização da marijuana, o Uruguai. Este país sul-americano legalizou 20/07/2017 a venda de marijuana em 16 farmácias em todo o país.
Como começou a legalização?
Esta situação é o resultado de mais de seis anos de luta, controvérsia e trabalho constante. Tudo começou em 2011 com um debate sobre legalização. Em 2012, um projeto de lei foi anunciado para a legalização e comercialização da marijuana, e já em 2013 o então presidente da República Oriental do Uruguai, José Mujica, anunciou que o Estado estava pensando em assumir o cultivo e a distribuição de marijuana. As promessas tornaram-se realidade em 10 de dezembro de 2013, dia em que foi aprovada a lei que regulamenta o mercado de cannabis, tanto a produção, comercialização, posse, usos recreativos e medicinais e o uso da planta em questão para fins industriais. A partir desse momento, o Uruguai tornou-se o primeiro país da história a legalizar a venda e o cultivo da marijuana para todos os fins.
Inicialmente, o cultivo foi legalizado para consumo próprio e os clubes de cannabis começaram a ser regularizados, mas o que acaba de acontecer marca o início da distribuição de cannabis pelo governo uruguaio.
Situação
Inicialmente, a venda foi legalizada em apenas 16 farmácias espalhadas pelo país. No mesmo dia em que a distribuição de marijuana começou, filas intermináveis foram organizadas nas portas das lojas que dispensavam e esgotaram em poucas horas. O fato é surpreendente se levarmos em conta que apenas 5.000 pessoas que haviam se cadastrado anteriormente puderam acessar essa substância. Apesar disso, as farmácias amanheceram com longas filas de clientes dispostos a acessar as duas variedades que o Estado uruguaio comercializou, Alfa I e Beta I.
Outro fato a ter em mente é que a lei indica que os clientes só podem comprar no máximo 40 gramas por mês a um preço de US$ 1,30 por grama, o que equivale a 1,12 euros.
Em princípio, muitas farmácias estavam interessadas em se tornar consumidores de marijuana, uma vez que a droga é legal e a produção e o monitoramento dela são às custas do Estado. Mas com o passar do tempo, muitos estabelecimentos vêm removendo a marijuana de seus estoques enquanto alegam problemas de segurança e lucratividade. Como veremos mais adiante, a baixa rentabilidade deve-se principalmente à falta de vendas devido à baixa qualidade do produto.
Dados do mercado
O fato de a marijuana ter sido legalizada não apenas serviu como uma referência pioneira em todo o mundo, mas também deu origem a dados oficiais de mercado sobre o consumo. Esta informação indica que ao longo de 2014 o consumo total de marijuana por cidadãos uruguaios foi de 34 toneladas, um valor equivalente a 44 milhões de dólares. Além disso, esses dados mostraram que mais de 160.000 pessoas de 3,4 milhões de pessoas do país consomem marijuana. Entre os consumidores podem distinguir três grupos principais: aqueles que adquirir marijuana em farmácias (4.959), aqueles que fazer em clubes de cannabis (63 clubes) e autocultivadores (6.948).
Como se tudo o que foi mencionado acima sobre o número de consumidores não fosse suficiente, vale ressaltar que esses números são apenas números oficiais e, portanto, devemos acrescentar o número de consumidores que ainda vão ao mercado ilegal para se abastecerem.
Para que fins a marijuana foi legalizada no Uruguai?
A nova legislação uruguaia sobre cannabis nasceu com a idéia de lutar contra o mercado negro de drogas, seja contra as drogas produzidas no mesmo país, como as que entram ilegalmente de outros lugares da América do Sul. Para combater o tráfico ilegal, foram permitidas três formas diferentes de acesso à marijuana: clubes sociais de marijuana, auto-cultivo e compra em farmácias.
O que você deve fazer para acessar a cannabis estadual?
A cannabis estadual é dispensada em farmácias e é necessário ter idade legal para acessá-la. Além disso, é condição provar a nacionalidade uruguaia ou residir permanentemente no país. Se você atender a esses requisitos, poderá se cadastrar no cadastro oficial de adquirentes e assim acessar a marijuana dispensada pelas farmácias. Para fazer isso, você só tem que passar por um sistema de identificação que funciona através do mecanismo de impressão digital.
Isso sim, qualquer um ligado ao registro deve levar em conta que a partir do momento que ele acessa a marijuana do estado, é proibido o acesso a clubes de marijuana, bem como o auto-cultivo.
Quanta marijuana você pode comprar?
Os consumidores cadastrados no cadastro de compradores podem comprar no máximo 10 gramas por semana. Cada pacote dispensado nas farmácias contém 5 gramas de marijuana e custa aproximadamente 6,5 dólares (5,48 euros).
Variedades estatais
Até agora, apenas dois tipos de variedades foram comercializados: Alfa I (indica) e Beta I (sativa). Teoricamente, os efeitos do Alfa I são físicos, relaxantes e calmos. Essa variedade ajuda a dormir, estimula o apetite, reduz a ansiedade e o estresse e atenua a dor e as convulsões. Por seu turno, Beta I tem mais efeitos cerebrais, estimulando a criatividade e produzindo uma sensação de bem-estar edificante.
Apesar dos efeitos diferentes, ambas as plantas têm uma percentagem de aproximadamente 2% de THC e uma percentagem de CBD ou canabidiol que é de 7% em Alpha I e 6% em Beta I. Esta composição faz os efeitos da planta quase imperceptíveis para o consumidor habitual, uma vez que o CBD neutraliza os efeitos psicoativos do THC.
Problemas
O fato de a marijuana estatal ter um efeito tão moderado trouxe consigo o problema usual, o que se queria evitar desde o início, que não é outro senão o tráfico ilegal de drogas.
Devido aos efeitos quase imperceptíveis da marijuana estatal, o consumidor habitual que não pode se auto-cultivar é forçado a recorrer ao mercado ilegal, uma vez que os níveis de THC da marijuana do estado são risíveis comparados aos níveis atingidos pela marijuana ilegal ou o auto-cultivado. Para que o leitor compreenda bem a diferença, ressaltar que a marijuana que atualmente é cultivada de forma ilegal geralmente gira em torno de 20% de THC (10 vezes mais do que a marijuana fornecida pelo Estado), enquanto seus níveis de CBD eles são escassos.
Portanto, o consumidor acostumado ao uso de marijuana com 20% ou 30% de THC não vê suas necessidades como consumidor e ainda é forçado a recorrer ao mercado ilegal, com todas as conseqüências negativas que isso acarreta.
Obviamente, todas as medidas tomadas pelo governo uruguaio foram positivas, pois ajudaram a reduzir o comércio ilegal e servem como um precursor para a legalização da cannabis para o resto do mundo. Mas este problema mostra a necessidade de melhorar alguns aspectos da lei para torná-la mais prática e funcional. Esperemos que, ao longo dos anos, as condições melhorem e o Uruguai se torne um verdadeiro exemplo de como a legalização da cannabis pode ter efeitos realmente positivos na sociedade moderna.